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TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

A teoria da aprendizagem significativa teve seu início nos trabalhos de David Ausubel, em 1963, tendo sido desenvolvida por seus seguidores, a exemplo de Joseph Novak e Marco Antonio Moreira.

Voltada para a aprendizagem em sala de aula, a teoria da aprendizagem significativa distingue-se de teorias comportamentalistas que buscam extrapolar resultados de estudos em laboratório para as situações de aprendizagem escolar, sem levar em conta a realidade das relações que se estabelecem em classe e sem considerar a natureza do conteúdo a ser aprendido. De fato, a teoria da aprendizagem significativa filia-se à orientação construtivista, admitindo como pressuposto que as pessoas constróem, individual e coletivamente, suas idéias sobre o mundo. O conhecimento não é algo imposto às pessoas, vindo de fora, mas, resultante de um processo de construção de relações entre idéias que tem como produto os significados.

A teoria da aprendizagem significativa tem orientação cognitivista, à medida que busca explicar os processos de aquisição, transformação, armazenamento, recuperação e emprego das informações, embora considere a importância dos fatores afetivo-sociais na aprendizagem.

A primeira idéia fundamental da teoria da aprendizagem significativa é que cada indivíduo possui um corpo organizado de conhecimentos, denominado estrutura cognitiva.

De fato, ao longo da existência as pessoas adquirem conhecimentos que utilizam em situações posteriores. Esta possibilidade de acesso às informações armazenadas e seu emprego em situações diversas àquelas em que as informações foram adquiridas, revela a existência de relações entre os conhecimentos. As relações entre as informações provêm uma estrutura para o todo, daí a denominação estrutura cognitiva. Entende-se a organização da estrutura cognitiva como hierarquizada, onde estruturas com significados mais amplos, gerais, incluem outras com significados específicos.
 
A estrutura cognitiva é passível de modificação tanto de conteúdo, quanto de organização, à medida que novas informações que podem ser inseridas vão estabelecer relações com os conhecimentos ali contidos e provocar a alteração das relações pré-existentes. Por outro lado, pode também ocorrer modificação da estrutura cognitiva por esquecimento (ver processo de assimilação, adiante).

A segunda idéia fundamental é que aprendizagem ocorre pelo relacionamento dos conhecimentos novos, a aprender, com os conhecimentos já possuídos pelo indivíduo [1].

As relações podem ser substantivas (essenciais, não-literais) e não-arbitrárias (coordenadas), originando novos significados por interação do conhecimento novo com o conhecimento prévio, o que caracteriza a aprendizagem significativa. Ou podem se constituir em associações literais e arbitrárias, simples adição de informação sem produção de significados, resultando em aprendizagem mecânica ou automática.

Esses dois tipos de aprendizagem não são mutuamente excludentes. Um indivíduo pode iniciar uma tarefa de aprendizagem de modo mais próximo do mecânico (por exemplo, gravando expressões matemáticas com a finalidade de resolver problemas) e posteriormente assimilar os significados daquele assunto (os significados das expressões matemáticas que havia memorizado mecanicamente). Por isso, pode-se pensar em uma dimensão da aprendizagem em que é possível passar continuamente da aprendizagem mecânica à significativa.

As associações arbitrárias e literais que caracterizam a aprendizagem mecânica constituem entidades discretas e relativamente isoladas em relação aos sistemas de significados dos alunos. Por isso, não alteram a estrutura cognitiva de modo a facilitar a aquisição significativa de mais conhecimento e são facilmente esquecidas. Considerando o fato de que os alunos adquirem a capacidade de relacionar informações significativamente em quantidade cada vez maior ao longo do tempo, fica claro que a aprendizagem escolar por excelência é a aprendizagem significativa. Portanto, interessa-nos, enquanto professores, este tipo de aprendizagem, que discutiremos a seguir.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

A aprendizagem significativa caracteriza-se pelo estabelecimento de relações substantivas e não-arbitrárias entre a nova informação apresentada ao aluno e sua estrutura cognitiva. Relações substantivas no sentido de essenciais, não-literais, já que não são os termos textuais da informação em si, mas, os diversos aspectos do seu conteúdo, que se relacionam com os significados pré-existentes. Não-arbitrárias porque a relação se estabelece entre os vários aspectos da nova informação e idéias similares e opostas, mais gerais e mais específicas da estrutura cognitiva, ou seja: aspectos relevantes para a incorporação do conhecimento novo, denominados idéias-âncoras. Como resultado da interação, tanto o material a ser aprendido quanto as idéias-âncoras se modificam, dando lugar ao significado psicológico da informação, assimilado à estrutura cognitiva.

O primeiro requisito para a ocorrência da aprendizagem significativa é a disposição do aluno para sua realização. É preciso um esforço consciente do aprendiz para estabelecer relações substantivas e não-arbitrárias entre a nova informação e sua estrutura cognitiva. Faz-se necessário identificar os conceitos presentes na nova informação, seus atributos, como se relacionam entre si e com os conceitos já conhecidos, para atingir a compreensão do material de aprendizagem. Entretanto, se o aluno estiver determinado a memorizar mecanicamente os novos conhecimentos, tanto o processo quanto o produto da aprendizagem serão mecânicos.

Em segundo lugar, é preciso que o material de aprendizagem possua significado lógico — caracterizado por uma estrutura não-arbitrária onde os símbolos utilizados possuam valor cultural — para que seja possível o estabelecimento de relações substantivas e não-arbitrárias com idéias que se encontram dentro do domínio da capacidade intelectual humana. Os conteúdos das disciplinas acadêmicas são produtos da experiência humana e como tais, passíveis de serem aprendidos significativamente.

A existência de significado lógico assegura que o material é passível de aprendizagem por, ao menos, alguns seres humanos. Para que um aluno específico — que apresente uma atitude direcionada à aprendizagem significativa e esteja exposto a um material logicamente significativo — aprenda significativamente, é necessário que disponha de idéias-âncoras claras, estáveis e bem elaboradas, para o estabelecimento das relações desejadas, sem o que torna-se impossível a integração da nova informação à sua estrutura cognitiva. O significado lógico do conhecimento novo e a disponibilidade de idéias-âncoras na estrutura cognitiva do aluno compõem o potencial significativo do material de aprendizagem.

Uma diferença importante a ressaltar ocorre entre significados lógico e psicológico. O primeiro é uma característica do material de aprendizagem. Se a informação é passível de aprendizagem significativa por alguns seres humanos, ao menos, ela é logicamente significativa. Significado lógico é um conceito associado à capacidade intelectual humana em sentido abrangente.

O significado psicológico, por sua vez, é produto da interação entre a informação logicamente significativa e a estrutura cognitiva de um dado indivíduo. É o produto de uma experiência particular. Embora os conhecimentos adquiridos possuam uma componente socialmente determinada, passível portanto de ser compartilhada por diversos indivíduos dentro da mesma cultura, o processo de assimilação do conhecimento envolve aspectos da experiência individual que lhe atribuem caracteres idiossincráticos. O significado psicológico é o produto idiossincrático da aprendizagem significativa.

A disposição para a aprendizagem significativa e o potencial significativo do material são, ambos, condições necessárias e complementares. Isoladamente são insuficientes, pois a aprendizagem significativa não ocorrerá se o aluno se dispuser a aprender mecanicamente um material potencialmente significativo, ou se o material não possuir potencial significativo, apesar do aluno se dispor a aprender significativamente. Uma vez satisfeitas essas condições, poderá ocorrer a assimilação de significados.

- ASSIMILAÇÃO
O processo de aprendizagem significativa consiste na interação de conhecimento novo com conhecimento previamente adquirido e disponível na estrutura cognitiva do aprendiz. Essa interação dá origem a novos significados assimilados à estrutura cognitiva, que torna-se mais rica em relação ao estado anterior. Entendemos como assimilação o um processo interno de interação de conhecimentos que culmina na produção de significados e continua após a aprendizagem, podendo conduzir ao esquecimento.

A compreensão da assimilação passa pelos modos de interação dos conhecimentos novos e antigos. Considera-se um modelo da estrutura cognitiva onde os significados encontram-se integrados de maneira organizada, com estruturas conceituais mais gerais, abrangentes e abstratas subordinando estruturas mais específicas. A assimilação pode então ocorrer pela interação de um segmento da estrutura cognitiva com uma informação mais específica, mais geral, ou ainda do mesmo nível, dando lugar à aprendizagem subordinativa, à aprendizagem superordenadora e à aprendizagem combinatória, respectivamente.

Na aprendizagem subordinativa a nova informação é assimilada por intermédio de uma idéia mais geral, presente na estrutura cognitiva do aluno, que a subordina. Quando o conhecimento adquirido é derivável do conceito subordinador, como no caso de um exemplo ou uma ilustração a mais de um dado conceito, diz-se que a aprendizagem é subordinativa derivativa. Por exemplo: a aprendizagem de uma nova espécie de lagarto ocorre por derivação do conceito de lagarto, que é mais geral e subordinará o novo conceito aprendido.

Quando o novo conteúdo não é derivável do conhecimento previamente aprendido mas, é uma extensão, elaboração, modificação ou qualificação deste, a aprendizagem denomina-se subordinativa correlativa. Por exemplo: a aprendizagem de uma nova espécie de lagarto não deriva dos conceitos de outras espécies já conhecidas.

Os diferentes estágios do processo de assimilação podem ser ilustrados esquematicamente representando-se, entre chaves, os conceitos gerais por letras maiúsculas, {A}, {B}, etc., e as idéias específicas por letras minúsculas, {a}, {b}, etc., do seguinte modo:

1.  Aluno com conceito {A} estabelecido na estrutura cognitiva trava contato com nova idéia {a}, potencialmente significativa. A interação modifica a estrutura cognitiva e a nova idéia, gerando {a}’ e {A}’ e o produto interacional {a’A’}:

{a}   +   {A}        {a’}   +   {A’}         {a’A’}

2.    Os novos significados são incorporados à estrutura cognitiva. Neste estágio, tanto a nova informação {a’} quanto a idéia-âncora mais diferenciada, {A’}, são identificáveis e reprodutíveis individualmente. A aprendizagem propriamente dita está completa e a disponibilidade dos novos significados é máxima. Diz-se que os significados são facilmente dissociáveis do produto interacional:

{a’A’}      ← →→     {a’}   +   {A’}


3.    Após a aprendizagem a assimilação continua, dando lugar ao esquecimento. Quando os significados aprendidos não são utilizados, a força de dissociação de {a’} em relação a {A’a’} diminui gradativamente de modo que, com o correr do tempo, a nova idéia {a’} já não se encontra tão disponível quanto antes. Este processo, que segue à aprendizagem de modo imediato, é a assimilação obliteradora:

{a’A’}          ← →           {a’}   +   {A’}

4.    Ao longo do tempo o produto interacional {a’A’} torna-se espontânea e progressivamente menos dissociável, até que a força de dissociação caia abaixo de um nível crítico — o limiar de disponibilidade. O significado {a’} é assimilado por {A’} ao ponto de não estar mais disponível como entidade independente. Dá-se o esquecimento de {a’} e resta a idéia subordinadora modificada {A’}:

{a’A’}             {A’}

Esquecer significa perda de disponibilidade, redução do grau de dissociação de uma idéia em relação às idéias mais abrangentes que a incluem.

O esquecimento de conhecimento aprendido significativamente é diferente daquele que ocorre após a aprendizagem mecânica. No primeiro caso, os conceitos subordinadores permanecem e apresentam diferenciação maior que antes da aprendizagem, pois {A} converteu-se em {A’}. Resta portanto, uma diferenciação da estrutura cognitiva com ampliação das possibilidades de aprendizagem significativa. No caso do esquecimento de material aprendido mecanicamente, nada resta, pois as associações arbitrárias que se estabelecem durante a aprendizagem não contribuem para a diferenciação da estrutura cognitiva.

A aprendizagem superordenadora é um processo psicológico mais complexo que a aprendizagem subordinativa, que ocorre quando um conceito geral, abrangente, inclusivo, é assimilado por intermédio de outros mais específicos. Esse tipo de aprendizagem exige a reorganização da estrutura cognitiva pois introduz uma nova idéia de grau elevado na hierarquia. O significado emergente vai subordinar suas idéias-âncoras, produzindo a nova ordem de cima para baixo, daí a aprendizagem ser superordenadora.

Uma terceira forma de aprendizagem ocorre quando da assimilação de informações que interagem com idéias do conhecimento prévio do aprendiz que não as subordinam e também não se subordinam: é a aprendizagem combinatória. A aprendizagem de material por processo combinatório é mais difícil, pois as relações se estabelecem com a estrutura cognitiva como um todo, em lugar de idéias particulares como nas outras formas de aprendizagem. As novas idéias são potencialmente significativas na medida em que, de modo geral, se harmonizam com os conhecimentos do aluno, imprecisos, a princípio, mas, com sentido. Esse tipo de aprendizagem ocorre na criação de relações entre idéias aparentemente díspares. Não há proposta de mecanismo para a aquisição dos significados combinatórios.

- DIFERENCIAÇÃO PROGRESSIVA E RECONCILIAÇÃO INTEGRADORA

No decorrer da assimilação a estrutura cognitiva se desenvolve através de dois processos correlatos: a diferenciação progressiva e a reconciliação integradora.

A diferenciação progressiva corresponde à assimilação cada vez maior de aspectos novos dos conceitos estabelecidos que assim, tornam-se mais diferenciados, daí a sua denominação. É um processo de permanente elaboração conceitual, em que os conceitos são concomitantemente ampliados — por derivação, extensão, elaboração, modificação ou qualificação de seus atributos — e aprofundados pelas inserções que os novos detalhes lhes facultam.

A diferenciação progressiva é preponderante na aprendizagem subordinativa onde conceitos específicos, progressivamente assimilados por idéias inclusivas, as tornam mais e mais diferenciadas a cada nova assimilação.

A reconciliação integradora é um processo de reorganização da estrutura cognitiva destinado a resolver conflitos, contradições e dissonâncias provenientes da inclusão de novos significados, e assim conduzi-los à uma situação de estável integração.

A reconciliação integradora é essencial na aprendizagem superordenadora e na aprendizagem combinatória, porque a assimilação de idéias tão ou mais gerais e abrangentes quanto as pré-existentes, introduz perturbações na estrutura cognitiva. Conquanto o aluno esteja disposto a aprender significativamente, deve reconciliar suas idéias criando e recriando relações conceituais como forma de integrar os significados emergentes de modo harmonioso com os demais.

A diferenciação progressiva e a reconciliação integradora não são mutuamente excludentes, ao contrário, ocorrem concomitantemente durante os diversos tipos de aprendizagem — subordinativa, superordenadora e combinatória — pois a reorganização da estrutura cognitiva pela inserção de idéias abrangentes e gerais conduz a relações de subordinação e a inclusão de conceitos correlatos ou derivados modifica os conceitos subordinadores, requerendo a reconciliação integradora.

Enfim, cada indivíduo aprende de acordo com seu conhecimento prévio, mais ou menos diferenciado, mais ou menos reconciliador, gerando o significado psicológico da nova informação.


REFERÊNCIAS

AUSUBEL, David P. Aquisição e Retenção de Conhecimentos: uma Perspectiva Cognitiva. Lisboa: Plátano, 2003.

AUSUBEL, David P., NOVAK, Joseph D., HANESIAN, Helen. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro : Interamericana, 1980.

MOREIRA, Marco Antonio. A Teoria da Aprendizagem Significativa e sua Implementação em Sala de Aula. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006.

SILVA, José Luis P. B. Ensino para aprendizagem significativa da termodinâmica básica. 1999. Dissertação (Mestrado em Física) - Instituto de Física, Universidade Federal da Bahia, Salvador. Disponível em: <http://www.ufba.br/tedesimples/>.


Notas:
[1] Embora Ausubel não tenha explicitado um conceito de aprendizagem em termos gerais, esta idéia decorre da própria formulação da teoria da aprendizagem significativa, onde se considera que conceitos específicos — aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica — decorrem de uma idéia geral que as subordina.

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